O
deputado estadual Wilson Santos é tido como um renomado professor de História.
Dizem que é dos bons. Mas tenho comigo que ele sabe muito pouco da história
recente do nosso País.
Wilson Santos se deu conta da vida política ali nos estertores da ditadura. Não viveu nada de sua fase mais brutal e não testemunhou nada das crises político-institucionais que o Brasil viveu pré e pós 1964. Era um menininho que vendia jornais no Palácio Alencastro quando Médici mandava matar nos porões da ditadura. Não viveu os horrores de um regime totalmente de exceção, que fechou Congresso, que destruiu toda forma de organização da sociedade civil, que prendeu, exilou, perseguiu, estuprou mulheres nas masmorras e não permitiu uma simples reuniãozinha familiar suspeita.
Wilson Santos se deu conta da vida política ali nos estertores da ditadura. Não viveu nada de sua fase mais brutal e não testemunhou nada das crises político-institucionais que o Brasil viveu pré e pós 1964. Era um menininho que vendia jornais no Palácio Alencastro quando Médici mandava matar nos porões da ditadura. Não viveu os horrores de um regime totalmente de exceção, que fechou Congresso, que destruiu toda forma de organização da sociedade civil, que prendeu, exilou, perseguiu, estuprou mulheres nas masmorras e não permitiu uma simples reuniãozinha familiar suspeita.
Ou
seja, Wilson Santos não sabe de nada. Não deve ter a mínima ideia do que é a
quebra da legalidade democrática. Mas não é nenhum inocente. Se faz de besta.
Ou tem simplesmente a plena convicção dos conspiradores. É isto, aliás, o que
se tornou este líder do governador Pedro Taques na Assembleia Legislativa.
Taques é um neocon e, qual o chefe, Santos envereda por caminhos que fatalmente
vão destruir por completo sua biografia. Ou ajustá-la ao que de fato é: um
traidor dos ideais do povo. Porque não basta ser um neoconservador, é
necessário ser um neo-conspirador.
Marx
diz lá no comecinho de seu celebre “18 Brumário de Luís Bonaparte” que fatos e
personagens da História repetem duas vezes, uma como tragédia e outra como
farsa. E Wilson Santos confirma esta tese marxista. Ele repete Mário Spinelli,
o grande conspirador civil do golpe militar de 1964, que em Cuiabá se juntou ao
grande conspirador militar Carlos de Meira Matos. Há, porém, uma ressalva:
Santos é, em essência uma farsa de sua própria história, um sujeito capaz de
derreter sua biografia por conta de uma conduta leviana e uma má índole que
permeia uma personalidade bipolar - alternando a maldade indisfarçada com o bom-mocismo traiçoeiro. É uma farsa em si, uma fraude como pessoa, mas
a sua postura política é uma tragédia.
Para
entender, voltemos cinco décadas atrás. Estamos no auditório-teatro do Colégio
Liceu Cuiabano ou nas dependências do então 16º Batalhão de Caçadores
(atualmente 44º Batalhão de Infantaria Motorizada) ou numa casa no alto do
Goiabeiras. Nestes palcos homens e mulheres se reuniam sob a liderança de Mário
Spinelli e Carlos de Meira Matos, então coronel do Exército. Um foi soldado da
legendária Coluna Prestes e o outro, combatente da não menos épica Força
Expedicionária Brasileira (FEB). Spinelli, com uma controvérsia trajetória como
político e empresário rural mato-grossense, liderava a mobilização civil.
Matos, comandante do 16º BC, era, por motivos óbvios, o braço armado do
movimento.
O
encontro desses dois personagens distintos da história brasileira teve uma
coincidência ideológica e um acaso. Mário Spinelli foi um soldado de Luiz
Carlos Prestes, quando o capitão do Exército adentrou Mato Grosso no final dos
anos 20 do século passado com sua coluna e fixou acampamento na região de
Chapada dos Guimarães.
Spinelli
era então um jovem idealista e se engajou auxiliando na logística da tropa,
essencialmente cuidando de cavalos para a montaria de oficiais e arrastar
canhões. Não consta que tenha entrado em combate. Quando a tropa seguiu viagem,
ele marchou por pouco tempo.
Anos
mais tarde, Mário Spinelli trilhou caminhos totalmente opostos ao de que
Prestes passaria a seguir: a esquerda. Como Filinto Muller, outro convertido
personagem da história nacional, que saiu da Coluna brigado com Prestes, num
episódio que envolveria desvio de recursos que davam sustentação financeira ao
movimento, Spinelli tornou-se um dos ícones da direita mato-grossense.
Carlos
de Meira Matos, oriundo dos quadros da Academia Militar das Agulhas Negras
(Aman), era um militar totalmente inserido na doutrina da segurança nacional,
incutida pelos militares dos Estados Unidos como ideologia para barrar o avanço
do comunismo no mundo logo após dividirem com a União Soviética os louros da
vitória na Segunda Guerra Mundial.
Depois
de servir na Itália, Meira Matos foi um dos militares brasileiros que mais
assimilou e passou a ser um dos principais teóricos desta doutrina no Brasil,
que serviu de base para a implantação de ditaduras (militares ou não)
pró-Estados Unidos em todo o continente latino-americano. Era um produto da
Guerra Fria.
A
aliança de Spinelli e Meira Matos, então, estava selada por um mesmo ideal: não
permitir a continuidade do governo de Jango, tido como aliado dos comunistas e
propenso a implantar uma “ditadura sindicalista” no Brasil, pró-União
Soviética.
O
acaso: Meira Matos estava em Cuiabá cumprindo uma pena disciplinar imposta pelo
então ministro da Guerra de João Goulart, Jair Dantas Ribeiro. Servindo no Rio
de Janeiro, ainda no final de 1963, Meira Matos era líder de um grupo de
oficiais que conspiravam abertamente contra o presidente. Sofreu processo
disciplinar e a pena imposta foi o “exílio” na capital mato-grossense.
A
pretensão do general Dantas Ribeiro era transferir o coronel Meira Matos para
bem longe do eixo Rio-São Paulo, onde estavam os principais focos da armação do
golpe. A “punição”, no entanto, acabou estimulando ainda mais as operações de
Meira Matos e transformando-o em um elo entre os conspiradores do Sudeste com
os do Centro-Oeste e Norte do País.
Depois
de intensas reuniões e de “assembleias” que mobilizavam centenas de pessoas no
teatro do Liceu Cuiabano, Spinelli e Meira Matos aguardaram apenas a senha para
o golpe.
Nos
últimos dias de março de 1964 o coronel já tinha o plano totalmente elaborado:
marcharia com a tropa do 16º BC rumo a Rondonópolis (no Sul de Mato Grosso –
naquela época ainda não havia divisão e era região Leste), onde incorporaria as
tropas do Grupo de Artilharia e Combate, seguindo para Goiás e incorporando
todas as unidades militares ao longo da BR 364: Mineiros, Jataí e Rio Verde,
até Goiânia, ganhando a adesão do 10º Batalhão de Caçadores, seguindo rumo a
Brasília.
Resultado:
naquela madrugada de 31 de março para 1º de abril as tropas Meira Matos já
estavam em posição de combate nas cercanias da Praça dos Três Poderes, em
Brasília. Foi a primeira a chegar ali, mesmo antes de acordarem as tropas
locais.
Àquela
altura Jango já havia fugindo para o Rio Grande do Sul e, de lá, para Uruguai.
Mas a mobilização de Meira Matos, somada à do general Olímpio Mourão Filho e
Minas Gerais ao Rio de Janeiro, inibiu qualquer reação do ex-presidente, que,
em que pese o apoio popular que detinha, preferiu não mergulhar o país numa
guerra civil.
Rememoro
esta história para relembrar que Cuiabá foi um dos principais berços da
conspiração contra Goulart e agora é um dos fortes focos da conspiração contra a
presidente Dilma. E Wilson Santos ocupa o papel de Mário Spinelli nesta
empreitada. Agora com outras armas, mas com a mesma disposição de quebrar a
legalidade democrática. Aguardemos os próximos capítulos.
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